INEE: Substituindo Diesel por Etanol, um resumo do IV Seminário sobre Uso Eficiente do Etanol

O INEE realizou a quarta edição do seminário, em 25 de outubro de 2017, no Centro Tecnológico da Mahle, em Jundiaí, onde ocorreu ampla e construtiva discussão sobre a substituição do óleo diesel por etanol.

O evento examinou os seguintes aspectos:

  • a viabilidade técnica e econômica da substituição;
  • o mercado; e,
  • as vantagens e barreiras a serem superadas nas condições brasileiras.

    Embora o evento não tivesse um caráter conclusivo, o INEE entende que o presente texto resume a essência dos aspectos apresentados pelos palestrantes. O resumo jornalístico e os “powerpoints” das apresentações estão em Programação do evento.

    A experiência mais longa de substituição de diesel por etanol é da SCANIA, na Suécia, onde centenas de ônibus e caminhões operam com motores de ciclo Diesel usando o etanol com um aditivo (4,5% do volume) para lubrificar e garantir a explosão. A tecnologia evolui desde 1989 e apresenta emissões urbanas bem inferiores aos limites mínimos europeus. Foi usada em São Paulo (programa ECOFROTAS, 2011) com a geração mais antiga de motores, mas a fábrica brasileira pode produzir motores com as tecnologias mais recentes.

    A BOSCH do Brasil desenvolveu tecnologia para substituir parcialmente o diesel por etanol, em motor ciclo Diesel com dupla injeção. Foi testada pela IVECO no transporte de cana em 2010 com resultado positivo e economicamente viável para substituir 40% do diesel. Apesar de ter sido premiada pelo setor canavieiro, por falta de mercado a experiência foi interrompida. Uma retomada da tecnologia deve produzir resultados mais atraentes, pois, desde então, o subsídio do diesel foi reduzido.

    A possibilidade de usar motor ciclo Otto a etanol foi apresentada pela UFMG, que desenvolve e avalia protótipos. Com uma câmara de combustão apropriada e usando turbo e injeção direta, o motor apresenta um desempenho equivalente ao de um motor diesel com a vantagem de ser mais leve e compacto.

    Esse motor Otto pode substituir diretamente o diesel no campo para acionar moto-bombas de irrigação. Já é usado em Montana nos EUA e, em menor escala no Brasil, mas ambos usam motores não otimizados para o etanol. O uso em transporte é outra possibilidade; uma projetista de motores dos EUA substituiu, em uma caminhonete, um motor diesel de 6,6 litros por um Otto com 3,2 litros! O motor Otto poderia, ainda, integrar um sistema híbrido-elétrico para transporte pesado com tecnologia desenvolvida no Brasil pela ELETRABUS.

    A substituição de diesel por etanol pode reduzir, em curto prazo, as emissões decorrentes da agroindústria da cana, que consome cerca de 5% do diesel usado no país (±3 bilhões de litros/ano), e do transporte urbano de passageiros e cargas, com notável benefício ambiental. Atualmente, o setor sucroalcooleiro depende fortemente do diesel na plantação, irrigação, colheita e transporte da cana. Por conta dos acordos do clima essa dependência vai ser medida regularmente, avaliada e cobrada.

    Em cidades como São Paulo onde as emissões do diesel são particularmente nocivas, há forte pressão para substituí-lo. Embora a mídia tenha enfocado sobretudo as modalidades de eletrificação pura (trólebus, VLT, veículos a bateria), a hibridação com motor otimizado para o etanol pode ser uma importante solução, pela expectativa de menores investimentos e de resultados significativos, dada a origem renovável do etanol.

    O seminário deixou claro que políticas de governo que estão em final de preparação devem incentivar a substituição do diesel por etanol mediante soluções de mercado. O RENOVABIO, programa de incentivo à produção e uso racional de biocombustíveis, deverá monetizar os avanços na redução de emissões mediante a emissão de certificados de não emissão a serem negociados no mercado. Será um estímulo para as usinas sucroalcooleiras reduzirem as emissões substituindo o uso do diesel por etanol nas diversas etapas de seu processo de produção.

    Está sendo finalizada, também, a nova política para o setor automobilístico (Rota 2030) que incentiva o aumento da eficiência no uso do etanol nos carros. o que pode trazer para o mercado de carros, motores Otto mais apropriados ao uso do etanol que, usados em sistemas híbrido- elétricos permitem substituir motores diesel.

    Ao mesmo tempo, a Prefeitura de São Paulo está avançando uma política para reduzir as emissões urbanas obrigando o uso de veículos pesados a serem elétricos ou elétrico-híbridos. Como em 20 anos deve ser zerado o uso de combustíveis fósseis nesse transporte, vai incentivar o uso de ônibus e caminhões elétrico-híbridos a etanol que implicam em investimentos menores que naqueles puramente elétricos.

    06/11/2017

  • [Fonte: INEE]


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