Jayme Buarque, do INEE: Ethanol Summit e Carros a Etanol

Nos dias 6 e 7 de julho último, teve lugar o Ethanol Summit, um evento realizado pela UNICA – União da Indústria da Cana de Açúcar, que ocorre a cada dois anos para discutir temas relacionados com a produção do etanol da cana e uso automotivo.

De um modo geral as palestras e discussões refletiram a preocupação dos participantes com a atual situação econômica do país. No médio prazo, no entanto, um clima difuso de otimismo pode ser percebido. Alguns slides de palestras fundamentam esta minha impressão.

Um slide da palestra da Diretora Geral da ANP, Magda Chambriard, torna clara a resposta dos motoristas brasileiros à relação de preços entre gasolina e etanol (“paridade”), mostrando que nos estados onde o etanol custa, na bomba, 70% ou menos que a gasolina, a procura por etanol é maior. Mostra ainda o espaço potencial da demanda que seria observada caso a paridade fosse de 80%.

A paridade de 70%, que representa a razão entre os poderes caloríficos desses combustíveis é, na verdade um falso indicador por não considerar as eficiências obtidas no uso de cada um. O slide, portanto, indica que o “paradigma 70” é uma grande imperfeição de mercado que, em última análise, ainda prejudica a efetiva competitividade do etanol.

Nessa apresentação, Magda Chambriard informa ainda que as “Projeções ANP para 2024 [indicam] déficit de combustíveis para motores do Ciclo Otto entre um mínimo de 188 mil barris/dia e um máximo de 585 mil barris/dia de gasolina equivalente”, indicando que “o tamanho do déficit potencial também dá dimensão da oportunidade para produtos substitutos”.

Diversas mesas, no evento, trataram dos desenvolvimentos de temas como a genética da cana, aperfeiçoamento dos processos produtivos, técnicas de plantio e colheita e produção da geração elétrica, para mencionar alguns. Ressalta em todas as palestras a previsão de grandes saltos de produtividade no próximos anos. Como exemplo, reproduzo um slide da palestra de José Bressiani, diretor da GranBio, que apresenta as características de uma nova espécie de cana (“cana energia”) em que a produtividade (massa verde ton/ha) já é o dobro da média na mesma região e ainda deve aumentar até a próxima década.

No que se refere ao uso automotivo do etanol, houve grande evolução com relação ao evento 2013. Naquele ano era celebrado o décimo aniversário do lançamento dos carros flex, os quais eram vistos como a única solução para atender um mercado com dois combustíveis. No corrente ano, a maioria das palestras chamava a atenção para as qualidades do etanol como combustível e para o fato de que os avanços tecnológicos em curso tendem a aumentar a eficiência de motores Otto quando usam etanol. Um slide da palestra de Frank Turkovitz (da PSA), que indica as principais mudanças, pode ser destacado, mas todas as palestras do Painel 6 “Etanol e Mobilidade: Veículos do Futuro“ indicadas abaixo trazem importantes considerações.

Saltos de produtividade tão elevados são raros em setores da economia maduros e consolidados como o setor de cana. Em médio prazo, indicam um uso mais intensivo e racional da terra e dos fatores de produção.

Ganhos econômicos importantes, fatalmente vão propiciar uma redução dos custos de produção do etanol e aumentar sua competitividade com a gasolina, mesmo que se continue a não monetizar os benefícios ambientais e sociais do etanol.

Veja as Palestras do Painel 6 do Ethanol Summit 2015 - Etanol e Mobilidade: Veículos do Futuro

FRANCK TURKOVICS – Technology Opportuni1es Using E100 for CO2 Benefit
RICARDO ABREU – ETHANOL AS PREFERENTIAL FUEL FOR THE FUTURE OF INTERNAL COMBUSTION ENGINE
FRANCISCO NIGRO – Eficiência de Veículos Flex: Etanol X Gasolina
SILVIO MUNHOZ – SCANIA. ETANOL É AGORA.
HENRY JOSEPH – ANFAVEA

Autor: Jayme Buarque de Hollanda, Diretor Geral do INEE e Secretário Executivo do PrEE - Programa Etanol Eficiente

21/07/2015

[Fonte: INEE]


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