Eficiência dos carros flex quando usam etanol

Como parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular – PBE Veicular, que informa os compradores de carros sobre o consumo de cada modelo, o INMETRO e o CONPET publicaram dados (http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pbe/veiculos_leves_2015.pdf) sobre o consumo de combustível dos carros leves comercializados em 2015. Ele é medido submetendo os carros a operarem em condições padronizadas que simulam os usos urbano e rodoviário.

Ao todo, foram avaliados 605 modelos de 36 marcas, sendo 299 flex. Os motores flex são motores a gasolina que também operam com etanol, graças basicamente, a ajustes do software que controla o motor. Por isso, geralmente, não conseguem aproveitar adequadamente propriedades do etanol, vantajosas para os motores usados em veículos leves (ciclo Otto). No entanto, alguns motores flex já apresentam rendimentos maiores com etanol do que com gasolina, tendência que pode evoluir com o uso mais generalizado de injeção direta e dos turbos.

Tendo em vista que os conteúdos energéticos do etanol e da gasolina são diferentes, para comparar os diversos modelos, o PBE Veicular considera a quantidade de energia consumida avaliada em Megajoules por km (MJ/km). As eficiências de um carro flex quando usa etanol ou gasolina são, normalmente, diferentes; para efeito de comparação, a publicação considera a média dos consumos com cada combustível (em MJ/km).

Como alguns milhões de motoristas no Brasil se abastecem unicamente com etanol, interessa saber em que medida o desempenho do carro, usando etanol, é mais atraente. Para suprir essa informação, o PrEE - Programa Etanol Eficiente do INEE, calcula e divulga as eficiências relativas dos diversos modelos com base nas informações do INMETRO. Acesse o link: (http://www.inee.org.br/etanol_flex_eficientes.asp?Cat=etanol) e conheça mais detalhes.

O gráfico a seguir apresenta a distribuição dos modelos comercializados em 2015 classificados pelas relações de eficiências. À esquerda do ponto 0,0% estão grupados os carros mais eficientes com gasolina e à direita os mais eficientes com etanol.


Do total dos modelos flex, a maioria (85%) é mais eficiente usando etanol. O i30 da Hyundai é o que apresenta o maior índice (8%). É importante notar que houve um grande avanço com relação ao passado quando a eficiência com etanol era normalmente inferior. Mesmo em 2014, quando apenas 25% dos carros eram mais eficientes com etanol, em apenas 8 modelos esse índice era maior do que 4% e, em 2015, há 45 modelos nesta situação!

Esta melhora certamente reflete avanços tecnológicos estimulados pelo programa Inovar Auto do governo que dá benefícios fiscais para os carros, mas exige, como contrapartida, um aumento da eficiência dos modelos. Seria o caso de examinar se os fabricantes estão descobrindo que uma das formas de cumprir a meta seria justamente valorizando as vantagens do etanol como combustível. Quem sabe uma montadora mais observadora não vai descobrir a inteligência de voltar a produzir carros a etanol? Afinal, trata-se de um respeitável nicho de mercado de algumas centenas de milhares de carros por ano.

Entretanto, as medidas do INMETRO reforçam a aceitação do conceito de que só vale a pena abastecer o carro flex com etanol se seu preço for até 70% do preço da gasolina, o que como se viu acima, não é válido. Como isso prejudica a procura do etanol, o combustível mais “limpo” disponível no mercado, é preciso trabalhar para desconstruir essa ideia que desinforma consumidores, distorce diretrizes de governo e afasta os fabricantes que querem incorporar as boas qualidades do etanol em seus carros.

Autores: Jayme Buarque de Hollanda, diretor geral do INEE
Jader Penna, estudante de Engenharia da UERJ e colaborador do INEE
30/04/2015


[Fonte: INEE]


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