Eficiência? Sou contra!
Parece que eficiência virou palavrão. Principalmente quando tratamos de temas como energia elétrica ou água. Parece que as autoridades hoje têm receio de que eficiência (ou racionalização) seja confundida com racionamento.
O custo das opções paliativas adotadas é enorme para a sociedade, mas, mesmo assim, continuamos a fingir que está tudo bem, em benefício da imagem da gestão do suprimento.
Certamente, o custo de uma mobilização criativa em favor do uso correto e racional seria bem menor e propiciaria ganhos substanciais nos diferentes planos.
Vivemos hoje momentos críticos na questão da água e da energia elétrica e, mesmo assim, não se vê uma ação abrangente e efetiva para minimizar os problemas.
No âmbito do setor elétrico, já se estima um custo superior a R$ 100 bilhões para fazer face às diferentes medidas adotadas para atenuar a crise, inclusive para pagamento dos combustíveis das térmicas, enquanto até o presente desconsiderou-se, ou mesmo evitou-se considerar uma alternativa de baixo custo, já testada com grande sucesso em 2001, quando a sociedade foi mobilizada para dar uma resposta calcada na racionalização.
A viabilidade de ser obtida uma resposta positiva e rápida é demonstrada pelo comportamento do mercado da Região Sul, que em 2001 reduziu em cerca de 9% sua demanda apesar de não estar sujeito ao racionamento, apenas por perceber os possíveis ganhos de eficiência indicados pela mídia para as demais regiões do país.
Apesar da Lei da Eficiência Energética (10295/2001) e do Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEF) muito pouco foi feito. A referida Lei trata da exigência de padrões mínimos de eficiência dos equipamentos consumidores e cuja implementação, com enfoque a médio e longo prazo, vem ocorrendo muito lentamente. O PNEF é um produto da mobilização promovida pela Lei e que ainda não começou a ser implantado.
O PNEF foi elaborado por inúmeros especialistas e indica, junto ao diagnóstico sucinto de diversos setores, uma série de propostas de ações de médio e longo prazo. Sua não implementação pelo governo reflete miopia política e elevado descompromisso com a competitividade da economia, com o bem estar social e com o meio ambiente.
No curto prazo, pela gravidade da situação, devem ser consideradas algumas medidas que poderão contribuir para equacionar o atendimento da demanda de energia elétrica, sem maior prejuízo para a economia.
Assim, são indicadas, a seguir, algumas providências de caráter institucional, bem como medidas pontuais, que poderão ajudar a aliviar, senão a superar, uma possível crise de abastecimento e reduzir custos para os consumidores e para o país, já extraordinariamente elevados.
Medidas de Curto Prazo
Além dessas recomendações, destaca-se que o governo já está sendo obrigado a implantar forte aumento de tarifas, de modo a ressarcir dívidas já contraídas e novas despesas com combustíveis. Embora venha a contribuir para a redução do consumo, é difícil avaliar quão significativa poderá ser, particularmente em curto prazo.
Outras medidas podem e devem ser estudadas tanto do lado da demanda como da oferta. São várias as já disponíveis, extensamente estudadas e comprovadas.
Estudos recentes do INEE mostram que o país aproveita, como energia útil, apenas cerca de 67% da energia obtida a partir de todas as suas fontes primárias. Vamos continuar assim?
Está faltando vontade política e discernimento para entender e assumir o custo que esta situação está gerando para o país e adotar as medidas necessárias.
Para que essas medidas sejam implementadas com a maior presteza e efetividade, serão fundamentais novos esforços, com liderança do governo ora eleito, para aumento da eficiência energética, que não pode depender apenas de atenções espasmódicas suscitadas por iminência de crise de suprimento.
Autor: Marcos José Marques, Presidente do Conselho Diretor do INEE
13/11/2014
[Fonte: INEE]
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